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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Você sabia? Esta guerra não é entre facções


Alcaçuz, Manaus e Roraima. Você sabia? Esta guerra não é entre facções


As notícias correm mais soltas do que os prisioneiros em fuga da prisão de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, palco de uma das sangrentas chacinas, inúmeras e recorrentes violações de direitos, rebeldia e túneis cavados na areia. Sob as barbas feitas e as mãos bem lavadas dos nossos governantes, desde o dia 14 de janeiro, batalhas mortais têm sido travadas entre membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e a facção recém apresentada ao país Família do Norte (FDN), aliada do Comando Vermelho.
A mídia fala o tempo inteiro em “guerra entre facções” e o país assiste atônito à suposta incompetência das autoridades em interferir e finalizar os conflitos. Entretanto, o que vemos em Alcaçuz e outros presídios de Manaus e Roraima não é uma guerra entre facções, mas uma faceta da luta de classes que permite ao Estado omitir-se, violar leis e ainda fingir solidariedade às famílias das pessoas assassinadas.
Essa tragédia nos lembra o tempo em que no Parque Bristol, periferia de São Paulo, as crianças jogavam bola ao lado de cadáveres. Tão perto que, se pudessem se levantar ainda, certamente eles dariam uma cortada no vôlei, ou um chutão na trave de pedras. Isso porque mortes violentas faziam parte do nosso cotidiano e o rabecão, sempre lotado, demorava pra chegar e transportar os corpos. Desde essa época, por volta de 1980, a mídia já tratava os conflitos ocorridos nas periferias de São Paulo como “guerra entre gangues” e “disputas por pontos de venda de drogas”.
Mas, eis que um dia surge o PCC – uma organização de pessoas aprisionadas voltadas à luta por direitos, pelo cumprimento das leis relativas à prisão (Oh! Paradoxo. Será mais uma das contradições do capitalismo?) e proteção de seus integrantes e familiares. O PCC foi resultado do abandono, da falha do Estado e da Sociedade, os quais enxergam a justiça pelo viés da vingança – ignorando deliberadamente todos os acordos mundiais relativos à garantia de Direitos Humanos, sempre festivamente assinados pelo Brasil.
Eis também que, contrariando todas as expectativas, o grupo de “pessoas criminosas” estancou a sangria periférica, estabeleceu leis, códigos de ética e de conduta dentro e fora das penitenciárias, diminuindo o número de homicídios em 80% no Estado de São Paulo. (Não. Geraldo Alckimin e sua PM não têm cacife para tanto e nem estão interessados em frear o genocídio contra o povo preto, periférico, que continua em curso desde a abolição da escravatura – afinal, sonhava-se um Brasil branco e capitalista.)
O sociólogo Clóvis Moura, em seu livro O negro na sociedade brasileira (1988), afirma que no Brasil houve um projeto de formação populacional que visava ao embranquecimento da população brasileira por meio da mistura interétnica, através da criação de leis segregacionistas e de estratégias de “imobilismo social”. E um dos resultados de séculos de discriminação é a presença maciça da população negra nas favelas, nos presídios e outros lugares de extrema pobreza. Podemos considerar que, nesses lugares, à estratégia do imobilismo social, citada por Clóvis Moura, soma-se o alto número de óbitos (genocídio) entre a população negra, como reforço a essa política de embranquecimento.
Assim, tanto os conflitos armados individuais que deixavam rastros de sangue nos nossos campinhos, quanto os coletivos que ora ocorrem nas penitenciárias brasileiras são apenas expressões de uma guerra maior, a qual possui traços étnicos bem definidos: De um lado a branquitude secular da elite (devidamente representada por agentes estatais, sobretudo os do campo da política), de outro a negritude da população carcerária e seus famílias.
Sendo assim, fervilham em nossas cabeças algumas perguntas: a quem interessa frear a matança nas prisões? Bandido bom não é mais bandido morto? Já pensaram se, como colocaram ordem nas favelas, o PCC ou outro grupo armado resolve e cria condições para pôr ordem no país? Nós já.
E considerando que a maioria das outras facções desenvoveram-se sob três bases altamente destrutivas (o mercenarismo, a violência e o baixo senso de solidariedade de classe - vide números crescentes de crimes violentos nos Estados onde elas dominam), e considerando ainda que tudo isso é perfeitamente compreensível, dada a situação de extrema desumanização em que vivem as pessoas encarceradas no Brasil, rezemos.
Sabemos que o que vamos dizer agora parece loucura, sobretudo para os coxinhas com catupiry. Mesmo assim, lá vai (tire a criança da sala): rezemos pelo PCC.
Ao menos com estes se pôde ver na prática a redução da violência nas favelas e, caso venhamos a cometer algum erro, com o PCC é possível reclamar um júri, defender-se e, quando for o caso, livrar-se do castigo – coisa

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